3 de janeiro de 2010

Lugar de celular é na escola!

Fonte: Correio Braziliense - Frederico Bottrel

Antigo vilão da distração na escola, o celular agora já tem status de material didático. No meio das canetinhas, cadernos, tesoura sem ponta e cola, o aparelho surpreende, incrementando o aprendizado em sala de aula. É a reinvenção do velho lema "se não pode vencer o inimigo, junte-se a ele", segundo Wagner Merije, idealizador do projeto Minha Vida Mobile (MVMob): "Não tem mais como os professores proibirem o uso do celular, ele está cada vez mais presente na vida de todo mundo. E a essência do ensino é trazer e aceitar os debates, discutir sobre as coisas novas; não simplesmente se fechar a elas". A coordenadora do Telinha de cinema, outra iniciativa semelhante, Leila Dias, completa: "A ferramenta já está na mão dos adolescentes . Não é justo que fique subaproveitada" .

Os dois projetos integraram a programação do Vivo Art.Mov, festival que trouxe a Belo Horizonte artistas e pesquisadores que debateram, por quatro dias, o futuro da mobilidade. Entre pesquisas envolvendo 3D ao vivo, GPS e criação artística, videocorrespondê ncia e realidade aumentada, a simplicidade do conceito do celular como instrumento de formação e inserção social mereceu destaque. O Art.Mov permitiu o contato com experiências diversas que apostam na ferramenta e nas suas diversas possibilidades didáticas.

Vídeos, fotos e peças de áudio criados por estudantes que passaram pelo MVMob estavam na programação, "mostrando como o celular pode ser construtor e transmissor de conhecimento" , de acordo com Merije. As oficinas já foram aplicadas em escolas públicas e particulares mineira, como Belo Horizonte, Tiradentes, Ouro Preto, Contagem, Sabará, Juiz de Fora, Betim, Nova Lima, Lagoa Santa e Brumadinho. Para o ano que vem, os planos devem alcançar São Paulo e Bahia.

Merije conta que o problema do uso do celular na escola, infernizando a aula enquanto os alunos jogavam games, ouviam música, mandavam mensagens de texto e faziam chamadas, foi o ponto de partida do projeto, criado em 2006. "Pensamos que a solução estava no próprio aparelho. A saída era instrumentalizar professores e estudantes para um uso criativo, cultural e consciente do celular."

Assim, as oficinas dão origem a projetos como a série Geração mobile, criada em colaboração por alunos e
professores. "Cada episódio discute um aspecto dessas inovações tecnológicas. Um deles, por exemplo, mostra como a língua portuguesa pode ser ensinada e aprendida usando o celular", explica o idealizador. Com o tempo, percebeu-se que o volume de vídeos feitos merecia um espaço de criação. Assim, nasceu o site do projeto, que tem pretensões mais amplas: "Queremos criar canais para que o aluno de uma escola possa trocar ideias com o professor de outra, de uma cidade a outra e, assim, construir uma rede colaborativa" .

Cinema
Perceber que o MVMob encontra correspondente semelhante em Palmas (TO), o Telinha de cinema, é mais um fator na soma da colaboração que aposta no celular como poderoso aliado pedagógico. A coordenadora Leila Dias explica que o princípio é o mesmo do projeto mineiro: "Focamos na democratização do audiovisual, por meio dos celulares com câmeras filmadoras. É muito rica a possibilidade de os próprios adolescentes de regiões periféricas registrarem, em imagens e sons, as suas vidas cotidianas".

No processo, a simplicidade ajuda a diminuir a resistência com ferramentas que poderiam ser mais complexas e fazem parte da criação de um vídeo. Os editores de imagens, por exemplo. Em vez de softwares profissionais, Leila acredita que vale a experiência mais leve: "Usamos o Movie Maker (editor já integrado ao Windows, com interface e recursos intuitivos) mesmo. É mais fácil de usar e, se eles quiserem, podem até continuar o trabalho em casa".

O Telinha de cinema tem hoje uma sede na capital do Tocantins e deu origem, também, ao Telinha na escola, com oficinas levadas a escolas públicas da periferia de Palmas e outras cidades, como Porto Velho (RO) e Rio Branco (AC). "As atividades podem ser desenvolvidas a partir da grade curricular, em trabalhos que envolvem o celular, a internet, o Bluetooth, as mídias móveis. É uma forma de aproximar esse novo aluno, totalmente modificado com a chegada das novas tecnologias, da escola", defende Leila.
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